Site da Prelazia do Xingu Quer dar um basta à pirataria sem pagar nada? Dados estatísticos Altamira...
ARTIGOS DOM ERWIN: em Português ; em Alemão







BLOG ESTÁ INATIVO, SERÁ MANTIDO PARA FINS DE CONSULTAS - PARA NOTÍCIAS ATUAIS VÁ AO SITE DA PRELAZIA (LINK NO TOPO) .

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

Poesia - Doroty

IRMÃ DOROTY, TEU SORRISO ANIMA E INCOMODA!

Zé Vicente

Eu fui a Anapu no dia 12 de fevereiro de 2008, três anos depois de teu martírio, Ir.Doroty!

Tuas irmãs, teus irmãos, e toda a tua gente de dor,de luta e de esperança, nos acolheram, a mim, Luizinha Camurça(CPT) e Stênio Pérsico(músico), com alegria de quem sabe muito bem, fazer da morte uma celebração de Vida e Esperança insubmissas.

O caminho percorrido é longo e a caminhada está aí, lenta e desafiante, assim como aquele trecho da transamazônica, esburacada, escorregadia, quando chove e empoeirada, quando o sol esquenta.

Eu vi o Rio Anapu, que chegou até o altar, na Igreja de Santa Luzia, tua colega de testemunho e martírio, durante o ofertório, naquela celebração eucarística de confirmação pascal. E não importa se ainda é quaresma e via-sacra! Com o rio nos braços, os frutos cultivados de maneira sustentável, erguidos nas mãos, berimbaus, flores e troncos em chamas, eu vi, sim, eu vi jovens e crianças, dançando em saudação a Bíblia e às oferendas, num ritual de graça e alegria cristãs.

Eu vi e ouvi o grito profético de D.Erwin Krautler, lúcido bispo católico do Xingu, consciente de sua missão pastoral e dos riscos que corre. Sua palavra, extensão atual, do texto do evangelho do dia ( Mt.6,7-15). Contundente denúncia sobre o descaso de quem tem o poder de governar e fazer justiça - políticos, funcionários públicos, dos órgãos encarregados do zelo da floresta e da vida das famílias que ali estão.

Pai Nosso, venha a nós o vosso Reino, da verdade e da vida, reino da santidade e da graça, reino da justiça,do amor e da paz!”

Na sua mensagem, D.Erwin, assume a voz dos que não podem falar, assim como deve ser a missão de todo aquele que se põe a serviço do pastoreio de um rebanho, em terras de tantas feras vorazes em ambição de bens e dominação, não importando se o sangue dos justos caiam sobre si. Meu Deus, e essas feras são nossos irmãos na mesma espécie humana!

As denúncias ganharam coro e força,na mensagem dos movimentos sociais e pastorais de Anapu,lida ao final da celebração: “...no terceiro aniversário do bárbaro assassinato de Ir.Doroty, queremos lembrar e viver o seu sonho,um sonho que é também nosso...”

Todos os atos do dia foram temperados com poesias e canções, entre elas aquela que compus no tempo de seca e lutas de 1982, em Crateús-Ceará, “Utopia”, considerada hino da caminhada por ali. Eu ouvi e senti a firmeza nas vozes ecoando Igreja à fora, mata à dentro...

O momento singelo, de peregrinação, atravessando o rio, na ponte balançante, até a tua cova, Doroty, naquele recanto que escolheste,dentro da Floresta, foi marcante e passará a fazer parte de nossas memórias sagradas. O som de tua voz livre, feminina, profética e de teu sorriso contagiante, vive hoje, como nota irmanada ao canto dos grilos, dos pássaros, do vento nas folhas e daquela menina que falou com lágrimas nos olhos, contemplando o teu rosto impresso na cruz: “tirem ela daqui, pra mim levar pra casa!...”

A causa maior, que não é só tua, Ir.Doroty Stang, mas de todos os homens e mulheres de boa vontade, causa sagrada da vida, do Reino de Deus, permanece para além de tua imagem que percorreu o mundo naquele doloroso dia 12 de fevereiro de 2005, como vibração de esperança, mas também como incômodo clamor nos ouvidos dos criminosos assassinos de gente, de animais e da Floresta Amazônica.

E queime também, como fogo abrasador, nos corações de quem tem o dever da ação e está omisso e cúmplice, portanto, dos crimes sem solução, mas também nas almas de quem se diz cristão ou cristã e nada fala ou faz, para testemunhar o compromisso irrestrito e solidário com quem está na missão e correndo riscos de vida, por testemunhar o Evangelho de Jesus Cristo!


Zé Vicente, poeta-cantor

Contato: zvi@uol.com.br



quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

3º Aniversário de morte de Irmã Doroty


O terceiro ano de morte de irmã Dóroty foi celebrado com a proclamação da vida em Anapu. Uma multidão de várias cidades da Transamazônica participou de um dia inteiro de homenagens à religiosa, que teve sua voz calada no dia 12 de fevereiro de 2005, quando seguia para mais uma reunião com os trabalhadores rurais daquele município.
Veja no vídeo acima.

Reportagem: Christianne Oliveira
Imagens: Erivaldo Andrade
Edição: Frederico Vicentini

Sem argumento, a Eletronorte não compareceu


Movimentos sociais, estudantes, acadêmicos, igreja, se reuniram ontem para um mini- fórum, o tema ligado a Belo Monte, deveria ser debatido entre as instituições responsáveis pelo projeto de barragem e a população local, mas, apesar do convite ter sido estendido, quem deveria prestar esclarecimentos sobre o assunto, como a Eletronorte, não se fez presente.

Veja no Vídeo acima.
Reportagem de Iolanda Lopes

Irmã Dorothy Mae Stang - Homilia de Dom Erwin

Homilia de Dom Erwin Krautler na Eucaristia celebrada por ocasião do terceiro aniversário de morte de Irmã Dorothy Mae Stang.

Caríssimos irmãos e irmãs em Nosso Senhor Jesus Cristo,

Celebramos o terceiro aniversário de morte de nossa Irmã Dorothy. Em 12 de fevereiro de 2005 ela foi brutalmente executada. Durante esses três anos muitas vezes fui perguntado por que uma Irmã que consagrou sua vida aos pobres e acompanhou sua luta por mais dignidade, por justiça e pelos mais elementares direitos de ter um chão para plantar e colher, por que essa Irmã dos pobres sofreu uma morte tão cruel. A resposta é simples e todos nós sabemos qual é. Ao colocar-se decididamente ao lado dos desfavorecidos, excluídos por um sistema capitalista selvagem que reina em nossa região, ela contrariou os interesses e as ambições de uma oligarquia que quer apoderar-se da Amazônia para usufruir de suas riquezas sem nenhuma preocupação pelas conseqüências para as futuras gerações. O lema é „aproveite-se enquanto puder“ e quem esboçar uma reação contra esta investida, corre risco de vida porque os representantes deste sistema agressivo à Amazônia reagem e conspiram imediatamente contra quem não rezar por sua cartilha. Dorothy foi vítima de seu amor à Amazônia. Por causa deste amor perdeu a vida.

A classe política se fez presente no dia do sepultamento de nossa Irmã. Anapu nunca viu tanto senador e deputado federal ou estadual. Hoje estou convicto de que a maioria dos que se fizeram presentes naquele funeral veio por causa da mídia que cobriu o triste evento. Essas autoridades que choraram ao lado do féretro queriam mostrar para o mundo que não compactuam com a morte e violência na Amazônia. Mas não deram nenhuma amostra de engajamento corajoso e valente para mudar a realidade. Não se converteram e a idéia de desenvolvimento que têm em relação a nossa região é meramente economicista. Pensa-se só em lucros imediatos e propositadamente se ignora as perdas irreparáveis. Delega-se às futuras gerações o enfrentamento da desgraça causada nestes tempos. É abominável uma geração descuidar de seus filhos e netos, deserdando-os por privá-los das mais elementares condições de sobrevivência.

Nos meses passados fomos sempre de novo alertados para o risco que a Amazônia corre, de sofrer danos sem precedentes. O ambicioso Plano de Aceleração do Crescimento, PAC, visa melhorar a infra-estrutura de transportes, comunicação e energia na região. À primeira vista o plano parece favorável à região. No entanto traz no bojo a ameaça de destruição da maior floresta tropical do mundo. Ao lado das investidas da parte de fazendeiros que mesmo multados insistem nas queimadas, ao lado da exploração por parte de madeireiros que, apesar de terem sido confiscados milhares de toras, continuam a derrubar, serrar e transportar clandestinamente madeiras de lei, ao lado desta depredação já em curso, a construção de barragens e de extensos linhões para transmissão de energia elétrica levará fatalmente a um desmatamento generalizado. Irmã Dorothy foi morta porque denunciou essas agressões ao meio-ambiente que já a médio prazo prejudicarão o lar (oikos) habitado pelos povos da Amazônia.

Causa-nos revolta e indignação que o segundo julgamento do réu confesso Rayfram foi anulado, alegando-se que, „ao executar a freira, estaria potencialmente sob ameaça de cinquenta homens armados, os posseiros de Dorothy Stang“. É incrível até que ponto um advogado de defesa chega e mais incrível ainda é que não foi preso por ter levianamente acusado os agricultores do PDS de „pistoleiros“, equiparando-os ao criminoso que matou a Irmã. E pior, graças a essa intervenção o júri é anulado!

Que Justiça é essa que de repente inverte os papéis, imputando a criminalidade à pobre Irmã que derramou seu sangue e alegando legitima defesa para o assassino que disparou cinco tiros em cima da vítima indefesa, cuja única arma fora a Bíblia Sagrada?

Que Justiça é essa que depois de três anos não conseguiu ainda completar os inquéritos ou então os encerrou por motivos que nunca conseguem convencer-nos?

Que Justiça é essa que adia de ano em ano o processo contra pessoas altamente suspeitas de ter encomenado o crime?

Que Justiça é essa que nunca levou a sério a existência do „consórcio do crime“ nesta terra?

O Evangelho proclamado neste dia (Mt 6,5-14) faz parte do Sermão da Montanha. Jesus ensina a seus discípulos e discípulas a rezar. É a oração por excelência da Igreja e de todos os cristãos e cristãs. Cada versículo merece uma meditação especial, cada palavra é sacrossanta e toca o nosso coração.

No contexto desta Santa Missa em que lembramos o terceiro aniversário de morte da Irmã Dorothy, escolhemos o pedido „Venha nós o vosso Reino!“

Nascemos neste mundo, mas somos cidadãos, cidadãs de outro mundo. Somos chamados a colaborar na construção de um Reino que não é deste mundo, mas é para este mundo. Essa missão não é nada fácil. Somos enviados „como ovelhas entre lobos“ (Mt 10,16; Lc 10,3). Muitos rejeitam a mensagem que queremos anunciar. Não a rejeitam apenas, mas querem eliminar a mensagem e a quem a anuncia. Mas também nesta realidade conflitiva ouvimos as palavras de Jesus: „o servo, a serva não é maior que o seu senhor. Se eles me perseguiram, também a vós perseguirão“ (Jo 15,20). O Reino é dádiva divina, é graça de Deus, mas não dispensa nosso empenho. O que caracteriza mesmo o cristão, a cristã, é a perseverança em meio a adversidades e frente ao ódio e à violência.

Tombam irmãos e irmãs, sacrificados, executados pelos asseclas de um sistema iníquo, mas quem acredita no Reino de Deus e em sua justiça, não vacila nem treme. O sangue derramado de Irmã Dorothy, de Dema, de Brasília e de tantos outros por esta Amazônia afora é semente fecunda que se multiplica em inúmeros irmãos e irmãs que continuam no Caminho, apostam na utopia do Reino, acreditam no triunfo final de Cristo Senhor, não recuam e, se preciso for, estão dispostos a dar até a própria vida.

Venha a nós o Vosso Reino!“ „Reino da verdade e da vida, reino da santidade e da graça, reino da justiça, do amor e da paz” (Prefácio de Cristo Rei). Amem.

Anapu, 12 de fevereiro de 2008
Erwin Krautler, Bispo do Xingu

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

Em preparação ao grande manifesto


A exemplo do que aconteceu em 2007, quando os povos indígenas participaram de um grande encontro e manifestaram sua posição em relação ao complexo hidrelétrico de Belo Monte, este ano um outro encontro deve mobilizar mais de 500 índios. O Movimento de Mulheres e de grupos de jovens da região de Altamira também se unirão aos índios e prometem um número acentuado de participantes. O evento foi discutido ontem em uma reunião que teve a participação do presidente nacional do cimi, Dom Erwin.

Veja acima, o vídeo com a reportagem de Benilza Miranda

Crescimento econômico e terrorismo midiático

Desde o começo do ano, tenho notado que a mídia tem evocado com insistência o tal “fantasma do apagão”. Especialistas são entrevistados diariamente, articulistas bombardeiam-nos com suas opiniões e passamos a conhecer em detalhes a famigerada “curva de aversão de risco” (gráfico que mostra a altura na qual os reservatórios das usinas hidrelétricas têm que estar em cada época do ano a fim de enfrentarmos sem sustos a estação seca) e a acompanhar sua evolução diária. Isto certamente servirá de forte munição contra a resistência dos ambientalistas às novas hidrelétricas nos rios amazônicos. Já posso até ouvir os argumentos: “estes ambientalistas são contra o desenvolvimento do país”; “são insensíveis à questão do emprego”; “precisamos de energia para o desenvolvimento e os atrasos nos licenciamentos ambientais são um entrave”. E por aí vai. Creio na intencionalidade da campanha da mídia, pois a tática, de resto, é velha conhecida. Cria-se uma ansiedade na população, que não quer perder seu conforto, polarizam-se as opiniões de forma simplista, tipo bem e mal ou “utópicos” versus “realistas”, não se informa corretamente (ou desinforma-se) e pronto. O resultado é que a dita opinião pública, no Brasil ainda muito longe de ser crítica e consciente, acaba indo na direção que o poder constituído quer. Ou seja, da construção de novas estradas e hidrelétricas, independentemente de suas conseqüências para o meio ambiente.

Na fase crucial da crise ambiental em que nos encontramos agora no mundo (esta sim, uma crise real, e não fabricada), acho isto extremamente lamentável. Com o planeta dando mais e mais sinais de seu esgotamento, e com cientistas e ambientalistas alertando para os riscos da manutenção do modelo econômico atual, a mídia poderia ajudar muito a enfrentarmos a crise que certamente irá agravar-se, propondo discussões sérias e procurando colaborar na conscientização da população.

Obviamente que sei que isto seria esperar demais. A grande mídia, aqui e alhures, encontra-se praticamente toda ela identificada com o pensamento econômico dominante. E este pensamento baseia-se em algumas premissas falsas, cujas conseqüências estão levando o planeta ao colapso, como por exemplo:

1 - O desenvolvimento de uma nação e a qualidade de vida dos povos dependem exclusiva ou majoritariamente de crescimento econômico.

Neste caso, o problema é tanto conceitual quanto lógico. Se definirmos desenvolvimento e qualidade de vida apenas em termos econômico-financeiros médios de uma população, não há como escapar. Porém, desenvolvimento é muito mais do que isto, e restringirmos o conceito àqueles indicadores, ainda mais médios, é muito simplista. Como lembrou José Goldenberg, em artigo publicado (milagrosamente) no Estado de São Paulo de 21/01, qualidade de vida não depende apenas de crescimento, mas principalmente de investimentos em saúde e educação. E se adotássemos outro modelo econômico, qualidade de vida dependeria quase nada do crescimento econômico. No quesito desenvolvimento, eu iria ainda mais fundo, pois prefiro conceituá-lo envolvendo aspectos de desenvolvimento intelectual e cultural, bem como de valores humanos, como cooperação, respeito e solidariedade. E mais:

2 - A economia mundial e a dos países necessitam de crescimento econômico contínuo e sustentado.

Já esta segunda premissa é falaciosa por dois motivos. O primeiro é que a necessidade de crescimento contínuo não é absoluta, mas relativa. Esta necessidade surge apenas dentro do modelo econômico atualmente adotado, mas não é um imperativo da economia, e muito menos do ser humano.

O segundo motivo é que ela encerra em si uma contradição lógica. Não existe absolutamente nada no universo que tenha crescimento eterno (exceto, talvez, o próprio universo). Até que os economistas criaram esta necessidade para a economia, a fim de justificar alguns desajustes atuais, como as desigualdades dentro e entre povos, por exemplo, e de gerar um mecanismo que a mantenha. Mas isto é matéria para outro artigo.

Ao defenderem sempre a necessidade de mais crescimento - e de mais geração de energia para sustentar este crescimento -, parece que os economistas, desde os prêmios Nobel até os repetidores de suas idéias por aqui, desacoplaram a economia do mundo natural, como se ela estivesse pairando acima dele e fosse independente da natureza. A qualquer um isto parecerá absurdo, mas não há outra forma de entender uma proposta, esta sim completamente absurda, de que precisamos de crescimento ilimitado. Parece que eles se esqueceram de algo muito simples e sem mistério: como o suprimento tanto de energia quanto de matéria prima é finito, simplesmente não há como manter um crescimento contínuo (claro que parte do crescimento pode dar-se por melhoras nas eficiências dos processos, mas isto também é limitado). É impossível. Simplesmente não há como empregar o adjetivo ‘contínuo’ para a palavra ‘crescimento’, muito menos junto com ‘sustentado’.

Voltando ao nosso problema local, tenho convicção de que, infelizmente, as hidrelétricas do rio Madeira sairão afinal do papel. Imagino que isto alivie a pressão por um tempo. Quando o famigerado crescimento econômico contínuo comer toda a produção energética extra, novas discussões serão iniciadas com os mesmos argumentos e novas hidrelétricas sairão do papel. Talvez, nesta fase, finalmente consigam aprovar as usinas no rio Xingu, depois no Tapajós, depois no Negro, depois ... Em cada caso, após a construção das usinas, haverá um período de relativa calmaria. Em seguida, nova crise, novo “fantasma do apagão”, novas discussões ... e assim sucessivamente. Até que todos os rios brasileiros, grandes, médios e pequenos, tenham sido transformados numa sucessão de lagos de hidrelétricas (como o Tietê, o Grande, o Paraná e alguns outros já foram). E então não haverá mais onde produzir energia desta fonte. Imagino, quando este dia chegar, com que cara ficarão os economistas e a mídia. Será que neste dia então finalmente eles irão perceber que crescimento econômico contínuo é absurdo?

Rogério Grassetto Teixeira da Cunha, biólogo, é doutor em Comportamento Animal pela Universidade de Saint Andrews. E-mail: rogcunha@hotmail.com

O Texto, com a devida autorização do autor, foi retirado do site: http://www.correiocidadania.com.br


segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008

Ganhe DVDs, com sua doação

Estamos com os seguintes títulos de vídeo para encomenda: clique aqui para pedido
1 - Preparação da 5ª Assembléia do Povo de Deus
Este vídeo foi produzido em ocasião da preparação das comunidades da Prelazia do Xingu para a Grande Assembléia do Povo de Deus.
2 - A 5ª Assembléia do Povo de Deus
Neste vídeo tem o resultado da preparação da 5ª Assembléia e os momentos fortes de Grande Assembléia, momentos de diversão... enfim, o começo meio e fim da Grande Assembléia.
3 - Imagens da Cidade de Altamira
30 minutos de belas imagens da Cidade de Altamira, ele é um vídeo para "curtir". Não é documentário.
4 - O caminho Continua
Dom Erwin, narra inspirada reflexão das bem aventuranças. "..Foi na casa de seu Vicente que Dorothy passou a última noite. Fui ver a habitação que ocupou nas derradeiras horas de sua vida. A pobreza é extrema....Alguém me conta que os assassinos haviam planejado matar a Irmã durante a noite, enquanto dormia. Rondaram a casa, espiaram pelas frestas, mas recuaram diante do choro de uma criança... A Justiça de Deus, enfim, é a última e a única instância em que os pobres confiam. A justiça humana é falha, unilateral, interesseira. Especialmente na Amazônia o pobre experimenta sempre de novo que não há justiça para ele...".

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

DOM ERWIN - CARTA À GOVERNADORA DO ESTADO DO PARÁ

Altamira, 21 de dezembro de 2007


Excelência,
S
enhora Governadora, Querida Ana Júlia Carepa,

Em poucos dias celebramos o Natal do Senhor e saudamos o Ano Novo. Que 2008 nos traga as mais copiosas bênçãos divinas e a realização de nossos sonhos. Queremos um mundo melhor onde não há excluídos do banquete da Vida. Queremos um mundo justo, fraterno, solidário.

Nestes dias de festa, a paz costuma ser o tema privilegiado que ultrapassa todas as fronteiras partidárias e de confissão religiosa. Queremos paz para nossos lares, nossas comunidades, nossa cidade, nosso Pará, nosso Brasil, o mundo inteiro!

Já no Antigo Testamento o profeta Isaías declara: “E o fruto da justiça será a paz. A prática da justiça resultará em tranquilidade e segurança duradouras“ (Is 32,17). Estou cada vez mais convicto de que onde falta esta Justiça, a Paz é lesada ou se transforma em lúgubre “paz de cemitério“.

Simplesmente não me conformo com o fato de ter sido anulado o 2º Julgamento de Rayfram das Neves, réu confesso do assassinato da Irmã Dorothy Mae Stang que desde 1982 trabalhou nesta Prelazia e consagrou sua vida aos mais pobres entre os pobres. Fala-se de questões de ordem técnica-processual. O povo jamais conseguirá entender estas filigranas ou artimanhas jurídicas. Na realidade, sentimos mais uma vez o gosto amargo de termos sido ludibriados. Todas as nossas campanhas em favor da Justiça, nossas reiteradas manifestações em que em praça pública exigimos Justiça deram em que? Nosso Pará há tempo é o campeão de violação de direitos humanos. Nunca cessaram os assassinatos, as ameaças de morte, os despejos violentos, o trabalho escravo. A decisão de anular o julgamento do assassino de Irmã Dorothy mais uma vez conspurca a imagem do Tribunal de Justiça do Pará perante a sociedade nacional e internacional, ainda mais nestes dias depois que a mídia internacional se inteirou dos fatos horripilantes e vergonhosos, ocorridos em Abaetetuba.

O mais esdrúxulo argumento para anular o júri foi inventado pelo advogado César Ramos da Costa. É uma rara amostra de cinismo despudorado! Chegou a alegar “que o réu, ao executar a freira, estaria potencialmente sob ameaça de 50 homens armados, 'os posseiros de Dorothy Stang, e que o juiz teria se recusado a considerar tal fato, ao elaborar os quesitos aos jurados“. A Irmã foi barbaramente executada! Depois de mais de dois anos, um advogado chega ao cúmulo de inverter os fatos, transpondo a Irmã de de sua condição de vítima à condição de ré, argumentando que ela no ato de ser assassinada teria estado “potencialmente“ circundada de cinqüenta homens armados! E pior, esse causídico consegue com seu sórdido arrazoado anular todo um júri!

Mas não é só o “Caso Dorothy“ que nos preocupa. Há outros tantos casos que nos espantam porque continuam impunes ou sem nenhuma providência. Passo a relacionar apenas alguns, de que temos notícia através de nossa Comissão Pastoral da Terra (CPT) do Alto Xingu

Em 29 de julho de 2006, junto com a mencionada CPT que atua nos municípios de Tucumã, Ourilândia do Norte e São Félix do Xingu, fiz a denúncia de três casos de violência contra trabalhadores em São Félix do Xingu, culminando em uma tentativa de homicídio e dois assassinatos.

O primeiro dos casos foi uma tentativa de homicídio contra o trabalhador rural Cláudio dos Santos Pontes, 34 anos, cujo inquérito policial indiciou como mandante do crime o fazendeiro Francisco Adebaldo Pereira de Araújo, proprietário da Fazenda Cristalina, São Félix do Xingu.

O segundo caso é o homicídio do trabalhador rural
Antônio Bezerra da Silva, executado com três tiros na cidade de São Félix do Xingu na presença de várias pessoas. Até a presente data não foi apurada a autoria do crime.

O terceiro caso é o assassinato covarde do menor Henrique Aparecido Ribeiro, de 11 anos de idade. Henrique era filho do trabalhador rural Sidney Aparecido Ribeiro, que trabalhava por aproximadamente três anos e meio na Fazenda Estrela do Xingu, São Félix do Xingu, de propriedade de Ronan Garcia dos Reis.

Todos estes crimes estão ligados a denúncias e reclamações trabalhistas. Apesar de nossas denúncias, a situação permanece a mesma. Nenhuma providência foi tomada. Os trabalhadores continuam sofrendo perseguição e retaliações quando procuram seus direitos.

Neste ano de 2007 surgiram mais quatro casos: duas tentativas de homicídio e dois assassinatos. Passo a relatá-los.

No final de janeiro de 2007 o Sr. Faustino Pereira Pinto procurou a CPT em Tucumã após ter recebido um tiro de raspão na cabeça durante luta corporal com um pistoleiro. Estava esperando o ônibus na rodoviária de Tucumã para viajar a Xinguara no intúito de denunciar o patrão, Wilson Schmidt, na Vara do Trabalho. No dia anterior, o trabalhador havia sido agredido na casa do ex-patrão, tendo uma das costelas afetada. O inquérito foi aberto, mas ninguém foi indiciado.

O trabalhador Luís Antônio da Silva Pinto foi encontrado morto à beira da PA – 279, a 10 Km da cidade de Ourilândia do Norte. Ele iria mover ação trabalhista contra o “Aragão”. O trabalhador foi enterrado como indigente e, na época, nem sequer um inquérito foi instaurado para investigar o caso.

Em abril de 2007, o trabalhador Raimundo Silva Lima que trabalhava na fazenda Xodó em São Félix do Xingu, depois de ter saído da fazenda e reclamado seus direitos trabalhistas contra o patrão Vilton Souza, foi perseguido por duas pessoas em uma moto e só não morreu porque no momento dos disparos, o trabalhador se jogou em um brejo embrenhando-se no mato.

Já no mês de março de 2007, o trabalhador rural José Roberto Viana Cabral pro-curou a CPT para fazer uma reclamação trabalhista. No serviço de derrubada sofreu um acidente de trabalho que comprometeu o movimento de suas pernas. No dia 02 de novembro, dia de Finados, José Roberto estava voltando do mercado com sua filha, de sete anos, quando foi parado perto de um bar próximo à sua casa, por dois homens que se diziam policiais. Exigiram seus documentos. Ao conferi-los disseram: “É este mesmo!” e dispararam dois tiros na cabeça do trabalhador, na presença da criança e outras testemunhas, fugindo em seguida numa moto. O trabalhador havia ingressado com ação trabalhista contra Avilton de tal (Supermercado Bom Tempo), para cobrar os direitos decorrentes da não-reintegração ao mercado de trabalho após a alta previdenciária. Havia audiência marcada para dia 16 de novembro de 2007.

Mais uma vez denunciamos a grande morosidade da polícia na investigação dos crimes, principalmente quando as vítimas são trabalhadores/as e sem condições financeiras.

Esses novos atos de extrema brutalidade atestam por si mesmos que os atentados contra a vida humana não cessaram. A impunidade é reflexo da falta de presença efetiva do Estado, Parece que não é a Lei, mas o revólver e o dinheiro que ditam as regras no Alto Xingu.

Junto com a CPT-Alto Xingu venho assim mais uma vez exigir providências sérias e decisivas para reprimir o clima de violência e morte que predomina na região.

As medidas mais urgentes, em nosso modo de entender, são:

1- Reforçar a Polícia Civil, notadamente os quadros que fazem a investigação policial;
2- Reforçar a Polícia Militar;
3- Melhorar o funcionamento do Judiciário, ampliando o quadro da promotoria (atualmente há apenas dois atuando em três municípios).


Conto com o empenho decidido de V. Excia. para que haja Paz na região do Xingu, como fruto da Justiça.

Feliz Natal e as bênçãos divinas para o Ano Novo!

Cordialmente,

Erwin Krautler
Bispo do Xingu

Obs: carta do mesmo teor foi enviada para: Ministro Paulo de Tarso Vannuchi, Secretário Especial dos Direitos Humanos, Tarso Fernando Herz Genro, Ministro da Justiça, Romeu Tuma Júnior,Secretário Nacional de Justiça, Antônio Carlos Silva Biscaia, DD. Secretário Nacional de Segurança Pública, Vera Lúcia Marques Tavares, Secretaria de Estado de Segurança Pública, Maria do Socorro Gomes, Secretaria de Estado de Justiça e Direitos Humanos, e ao SDDH.

Padre Sávio - Recadinho

"Boa noite (31/01/08). Vi pela primeira vez o blog e GOSTEI. Parabéns.

Quero sugerir que o blog indique a seus amigos e amigas o texto e também a possibilidade de rever na Internet a importante série de reportagens sobre a Terra do Meio produzidas pelo jornalista Marcelo Canelas para a TV Globo (dezembro 2007)."

Podem encontrar tudo em: http://bomdiabrasil.globo.com/Jornalismo/BDBR/0,,LS0-3683-52270,00.html

Ao lado de cada vídeo tem um lik "Leia mais", é a versão escrita da matéria, também é muito bom*

Reportagem Fantástico 09.12.2007: http://video.globo.com/Videos/Player/Noticias/0,,GIM764039-7823-TERRA+DO+MEIO+UM+TERRITORIO+TOMADO+POR+GRILEIROS+E+MADEREIROS,00.html


Recado dado. Muito obrigado Padre Sávio